Eurobarómetro: Consciência ambiental dos portugueses elevada, mas pouco levada à prática
Barómetro da União Europeia destaca a consciência ambiental dos portugueses, mas também o seu desconhecimento e falta de atuação face à perda de biodiversidade.
O relatório intitulado “Eurobarómetro” publicado pela Comissão Europeia em novembro de 2013, reflete a “atitude face à biodiversidade” dos europeus, através de inquéritos a uma amostra representativa da população. Os dados em relação a Portugal sugerem algumas tendências, que tanto têm de curiosidade, como de importância, de onde se destaca a elevada consciência ambiental dos portugueses, mas também a sua desinformação em relação ao tema.
O relatório realça novamente que a perda de biodiversidade na União Europeia e a nível global tem acelerado nos últimos anos. Cerca de uma em cada quatro espécies encontram-se ameaçadas na UE, e de acordo com a Comissão Europeia, são atualmente alvo de sobrepesca 39% das populações de peixes analisadas no Atlântico, e 88% no Mediterrâneo. Face a este problema, a UE adotou em maio de 2011 uma ambiciosa estratégia para travar a perda de biodiversidade e dos serviços dos ecossistemas no espaço comunitário até 2020.
Incidindo mais concretamente sobre os resultados do “Eurobarómetro”, verifica-se que 43% dos portugueses sabe o significado do termo “biodiversidade” (uma abreviatura para “diversidade biológica”), 38% já ouviu falar mas não sabe o que é, e 19% nunca ouviu falar. Na mesma linha, 39% sentem-se “informados” em relação à perda de biodiversidade, enquanto que e 60% se sentem “não informados”, e 91% revelam interesse em estar melhor informados sobre o tema.
Os portugueses são o povo europeu que mais importância coloca na “poluição do ar e da água”, “desastres de origem humana” (93%) e “destruição de habitat” (68%) como sendo causas muito relevantes para a perda de biodiversidade. A perda das florestas nativas surge como o problema que os portugueses consideram mais grave em relação ao tema (81% considera este problema muito grave). Isto, relembrando que estamos num contexto em que a recente proposta de alteração da legislação sobre Arborização e Rearborização, abre a porta à liberalização das plantações de eucalipto, e com a nova "Lei das Sementes" em vias de ser aprovada pelo Parlamento Europeu, a proibir a troca de sementes e tornando ilegal a comercialização de espécies autóctones.
Ainda em relação aos resultados, a consciência ambiental dos portugueses surge novamente em primeiro lugar com 78% dos inquiridos a considerarem que a perda de biodiversidade é um problema grave a nível mundial. No entanto, este número cai para 62% quando se fala à escala europeia, e apenas 55% dos portugueses considera a perda de biodiversidade como um problema sério em Portugal. De referir que em 2010 este valor era de 72%, o que demonstra um acentuado decréscimo da importância que os portugueses dão à perda da biodiversidade no país. Em contraste, Portugal volta a estar em primeiro lugar quando 41% dos inquiridos afirmam já estar a ser afetados pelo problema.
A verdade é que nem só nas florestas tropicais longínquas a perda de biodiversidade é um problema. Segundo a BirdLife International, 40% das espécies de aves mais comuns na Europa regrediram a nível populacional nos últimos 30 anos, com ênfase para as aves mais dependentes de zonas agrícolas. Em Portugal destacam-se os casos da rola-brava, do picanço-barreteiro, e do picanço-real, casos comprovados a partir dos programas de monitorização realizados pela SPEA. Também no mar existem problemas, sendo as aves marinhas o grupo de aves em declínio mais acentuado a nível mundial, afetado por ameaças como a introdução de espécies invasoras nas colónias de nidificação e capturas acidentais nas artes de pesca. Lembramos que as águas portuguesas são cruciais para espécies de aves em vias de extinção como a pardela-balear, ou as endémicas freira-da-madeira, freira-do-bugio e painho-de-monteiro, que vivem exclusivamente nas águas das nossas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira.
Em relação às áreas protegidas, apenas 14% dos portugueses sabe o que é a “Rede Natura 2000” (a rede ecológica para o espaço comunitário resultante da aplicação das Diretivas Aves e Habitats), 25% desconhece o seu significado mas está familiarizado com o termo, e 60% nunca ouviu falar. Novamente com tendência para o topo da tabela, os portugueses são o povo que considera mais importante que nas áreas protegidas se promova o ecoturismo (71%), e os usos sustentáveis da área (90%).
Numa nova demonstração de consciência ambiental, 92% dos portugueses (novamente em primeiro lugar) consideram que é uma obrigação moral parar a perda de biodiversidade. E mesmo no atual contexto socioeconómico, apenas 10% dos portugueses defende que os impactos negativos do desenvolvimento económico nas áreas protegidas são “aceitáveis” pois o desenvolvimento está sempre acima da conservação da Natureza.
Mas quando as questões estão relacionadas com o quotidiano, o cenário muda. Um pouco abaixo da média europeia (38%), apenas 34% dos portugueses admite que se esforça para travar a perda de biodiversidade. Em 2010, há apenas 3 anos, este valor era de 43%, o que reflete um aumento no relaxamento das metas ambientais a atingir pelo cidadão português para o seu dia-a-dia.
A SPEA apela a que, mesmo num contexto socioeconómico adverso, os cidadãos continuem a realizar pequenos gestos simbólicos para o bem do planeta que pouco exigem de esforço, como reciclar e reduzir, dar preferência a produtos locais e/ou que respeitem boas praticas ambientais, participar em debates públicos pela sustentabilidade das decisões políticas, e a um maior contacto com a Natureza que nos rodeia, e que ainda é a nossa maior riqueza.