Erosão no litoral português
A história já é antiga e repete-se todos os anos:
«Todos os anos é a mesma coisa. Lá vêm nos telejornais as imagens das ondas a varrer o paredão de Espinho, arrastando o que quer que ali esteja, de carros a pedregulhos. Lá vêm as notícias da arriba algarvia que está «mesmo a cair», pondo em risco uma ou duas moradias.
E também são já costumeiros os trabalhos dos homens e máquinas, a repor calçadas e enrocamentos, e os anúncios salvadores que prometem milhões para pôr fim à «doença» da erosão costeira. (...)
E o problema é muito agravado quando o fluxo sedimentar começa a ser interceptado pelas autênticas «barragens» que são os esporões. Estas e outras obras pesadas de protecção costeira, que vêm em defesa de habitações que não deviam lá estar, são, segundo, Alveirinho Dias — professor na Universidade do Algarve e especialista em geologia costeira — «bastante eficazes na proteção de construções a curto prazo, mas extremamente agressivas para o troço costeiro intervencionado». Transversais ao fluxo, os esporões intersectam os sedimentos que se deslocam — tomando por exemplo a corrente dominante na costa oeste — para sul, criando acumulações de areia a norte. Do lado sul, a falta de areia traduz-se num desgaste acelerado da linha de costa. A erosão acelerada a sul dos esporões obriga à construção de novos esporões.»
Adaptado de: Fórum Ambiente, Janeiro de 1999