Se a população global continuar a utilizar os combustíveis fósseis à corrente taxa de utilização, o aquecimento global vai aumentar dois graus Celsius até 2036, ultrapassando um limiar que muitos cientistas consideram que irá ter consequências nefastas em todos os aspectos da civilização humana: alimentos, água, saúde, energia, economia e segurança nacional.
Num artigo intitulado “False Hope”, publicado na edição de Abril da Scientific American, Michael E. Mann explica como é que o planeta vai atingir este limite rapidamente e por que é que o recente abrandamento no aquecimento, se continuar, vai apenas conceder dez anos à Terra para reduzir as emissões de gases com efeito de estufa e evitar ultrapassar o perigoso limiar.
De acordo com o cientista, os dados que indicam que a taxa de aquecimento do planeta estagnou na última década, evento que é conhecido como “a pausa”, são incorrectamente interpretados. Segundo Mann, as temperaturas continuam a aumentar, não a uma taxa tão elevada como a da década passada e a questão importante é qual o significado desta desaceleração a curto prazo na forma como o planeta pode vir a aquecer no futuro.
O Intergovernamental Panel on Climate Change (IPCC) está encarregue de responder a questões como a anterior. As previsões sobre o aquecimento são feitas através da publicação de relatórios, para os cinco a sete anos seguintes, e são estes documentos que orientam a maioria das políticas mundiais sobre o quão rápido está o planeta a aquecer ou quanto tempo dispomos para travar este aquecimento. De acordo com o Mann, o IPCC ainda não ponderou os impactos do aquecimento ou como minimizar estes impactos, o que deverá fazer nos próximos relatórios a publicar.
Contudo, o investigador criou um modelo que permite dar resposta à consequência da desaceleração do aquecimento e ao impacto que terá no aquecimento futuro.
Tudo vai depender da sensibilidade do equilíbrio climático
Embora a terra tenha experienciado um aquecimento excepcional ao longo do último século, para estimar quanto mais é que o planeta vai aquecer é necessário, indica Mann, saber como é que a temperatura vai responder ao aumento atmosférico de gases com efeito estufa provocados pelo Homem, principalmente o dióxido de carbono.
Os cientistas chamam a esta resposta “sensibilidade do equilíbrio climático” (ECS, na sigla inglesa). Esta é uma medida comum para o efeito de aquecimento provocado pelos gases estufa. É também o indicador do aquecimento esperado à superfície da Terra depois de concentração e CO2 na atmosfera aumentar para o dobro e o clima posteriormente estabilizar – ou seja, atingir um equilíbrio.
Quanto sensível for a atmosfera a este aumento do CO2, maior será a ECS e mais rápido aumentarão as temperaturas. Porém, é difícil determinar um valor exacto para a ECS porque o aquecimento é influenciado por outros mecanismos, como as nuvens, gelo e outros factores. Uma vez que estes mecanismos externos são incertos, o IPCC fornece uma variação para a ECS, em vez de um valor exacto. No relatório de Setembro passado, o último, o IPCC estimou um aumento entre 1,5 a 4,5 graus Celsius. Contudo, Mann calculou as temperaturas hipotéticas futuras com diferentes valores para a ECS, num modelo de balanço energético.
De acordo com os estudos feitos pelo investigador, para uma ECS de três graus, a Terra poderá passar essa barreira de dois graus aceite pela comunidade científica em 2036. Porém, considerando uma ECS de 2,5 graus, esta barreira seria apenas atingida em 2046.
Desta forma, o investigador indica que mesmo num cenário favorável, com um valor para a ECS baixo, não é sinal de que o aquecimento global acabou ou estagnou. É apenas sinal de que a terra e a humanidade têm mais tempo para evitar que a temperatura média aumente dois graus.
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