No que toca às alterações climáticas, a China é um enigma. É maior emissor mundial de gases com efeito de estufa e consome mais carvão do que todos os países do mundo juntos. Porém, surpreendentemente, a China possui a maior capacidade instalada de energia hídrica, solar e eólica do mundo.
O Governo chinês está a encarar seriamente a questão das alterações climáticas, como pode ser comprovado nos planos para aumentar a quota de consumo de energias renováveis para 11,4% do total de energia consumida no país, através de 160 gigawatts de capacidade instalada de energia hídrica e da expansão de outras renováveis e da energia nuclear.
O potenciamento da energia hídrica e de outras formas renováveis ganhou uma urgência particular devido aos problemas de smog, que são cada vez mais severos e frequentes nas principais cidades chinesas.
Veja onde estão situadas as novas barragens chinesas.
Os planos da China, no campo das renováveis, passam pela construção de pelo menos 84 grandes barragens no sudoeste do país. Estas barragens deverão aumentar a capacidade hídrica instalada para 284 gigawatts em 2015 – mais o que a capacidade da Europa – e para 380 gigawatts em 2020 – mais do que a capacidade combinada da Europa e Estados Unidos, refere o Wilson Center.
Porém, o problema do clima e da poluição é ainda mais profundo, uma vez que a energia hídrica pode comprometer os ecossistemas dos rios do país. Mais de 70 das barragens planeadas estão localizadas em áreas que estão identificadas internacionalmente como locais de biodiversidade com interesse.
Existe um local em particular, onde três rios paralelos – Nu, Lancang e Jinsha – escavam vales que ligam as florestas tropicais ao Planalto do Tibete. Se a construção das barragens avançar, as infra-estruturas vão submergir partes destes corredores naturais e deteriorar o ecossistema para muitas espécies da fauna e flora. A redução da biodiversidade e robustez destes ecossistemas produz, por sua vez, um impacto negativo nas comunidades humanas que dependem destes ecossistemas. Adicionalmente, as grandes barragens inundam grandes áreas de terreno adjacente aos rios, terras estas que são bastante férteis e de alto valor para os agricultores locais.
A maior parte das barragens já construídas, em construção ou planeadas carecem de estudos de impacto ambiental e social, que possam avaliar imparcialmente os custos e benefícios da construção. O menosprezo dos ecossistemas e do papel que desempenham resultou na priorização das metas para a redução das emissões de dióxido de carbono, ignorando os impactos ecológicos, sociais e económicos significativos destes projectos hidroeléctricos.
Foto: Britrob / Creative Commons