Em maio de 2015, o Governo de Porto Rico começou a racionar a água na zona mais populosa da ilha, no lado leste, algo inédito nos últimos 20 anos. Carraizo, a maior reserva da ilha e que serve parte de San Juan, a capital, decresceu 5,4 metros nos últimos meses, pelo que, para a maioria dos 160.000 habitantes e negócios da ilha, a água é desligada durante 48 horas, reposta por outras 24 horas, e assim sucessivamente. “As pessoas ficam loucas para armazenar água”, escreveu o The New York Times.
Segundo Alberto Lázaro, presidente-executivo do Aqueduto de Porto Rico e da entidade que gere os esgotos, este é o “maior plano de racionamento que alguma vez” a ilha teve. “Tem chovido, mas a chuva que deveria cair na costa leste está a cair na costa oeste”.
Esta seca não recebeu tanta atenção como a da Califórnia e outros estados no Norte dos EUA. Ou mesmo com a seca que assolou, São Paulo e outras cidades brasileiras. Mas ela foi real e deveu-se ao El Niño, um padrão climatérico que afetou outros estados das Caraíbas, como Cuba e a República Dominicana.
Foi em Porto Rico, porém, que a seca mais preocupou – havia reservas com apenas 30 dias de água disponível. Para além de pôr em causa a sustentabilidade financeira da empresa que gere as águas do país e o abastecimento de água para as famílias e negócios, a seca atormentou os agricultores, que não conseguiam alimentar os seus animais e adiaram a plantação de vegetais. Na reserva de La Plata, por outro lado, milhares de sardinhas morreram por falta de oxigénio.
Curiosamente, o turismo não foi afetado pela seca: a maioria dos resorts da ilha é servida por um supertubo que puxa a água de um sistema separado, instalado no centro da ilha.
Como a seca mudou os comportamentos
Quando o aqueduto libertava a água durante 24 horas, explicou o NYT, começava o lufa-lufa: panelas, tachos, baldes, garrafas, potes e até latas de lixo eram usados para colocar água; os pratos das refeições eram lavados, os banhos tomados e toda a família se preparava para mais 48 horas sem água.
“A necessidade é a mãe da invenção”, explicou Carli Davila, de 39 anos e que vive perto da Universidade de Porto Rico, em San Juan. “É como em Cuba. Quando nos faltam coisas, quando há escassez, temos de usar o nosso lado criativo.”
Esta escassez de água foi importante para que a população percebesse não só a importância de ela existir sem cortes mas também a necessidade de a poupar. “Percebemos quanta água gastamos e com quanta água podemos viver”, concluiu Davila.
Foto: Breezy Baldwin / Creative Commons