Até à data pensava-se que o colapso civilizacional da Ilha da Páscoa tinha sido causado pela desflorestação e posterior canibalismo. Porém, um novo estudo norte-americano vem contrariar esta teoria.
Investigadores da Virginia Commonwealth University sugerem que o colapso dos Rapa Nui – nome dos habitantes da ilha – foi provocado pela chegada dos colonos europeus, que trouxeram doenças como a sífilis e a varíola, bem como a implementação da escravatura. A lenda diz que a população da ilha cresceu exponencialmente e obrigou os habitantes a abaterem todas as árvores e recursos disponíveis, transformando radicalmente a paisagem do local, o que afectou o solo fértil e forçou a população a praticar canibalismo.
Os cientistas da Virginia Commonwealth consideram, porém, que os habitantes continuaram a viver bastante bem mesmo depois da última árvore ser abatida, o que contraria o mito de que os Rapa Nui provocaram o seu próprio declínio. Para chegar a esta conclusão, os académicos estudaram as ferramentas agrícolas deixadas por este povo, que podem ser encontradas por toda a ilha.
Através da análise dos objectos, os investigadores concluíram que o colapso na agricultura não foi súbito mas sim gradual e apenas em algumas áreas da ilha, escreve o Daily Mail. O estudo foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences.
A Ilha da Páscoa é um dos locais habitados mais remotos do mundo. Actualmente, o território pertence ao Chile e está a mais de 3.500 quilómetros da costa chilena e mais de 2.074 quilómetros de qualquer outra ilha habitada.
Acredita-se que a colonização da ilha tenha acontecido entre 700 e 1200 D.C. por polinésios que navegaram até lá navegaram e se instalaram. A população foi crescendo rapidamente e por lá prosperou durante centenas de anos. Alguns cientistas acreditam que no seu pico, a população da Ilha da Páscoa tenha atingido 20.000 habitantes. Outros peritos acreditam ainda que o solo fértil do território permitiu à população desenvolver uma cultura rica, que lhes permitiu esculpir as míticas estátuas moai.
Perto de 1200 D.C, os habitantes começaram a cortar bastantes árvores e palmeiras para construir canoas mas também para transportar as moai gigantes. A partir desta altura, segundo conta a lenda, o solo foi perdendo a sua fertilidade, o que prejudicou a vida selvagem. Foi então que a população começou a passar fome e num último esforço de sobrevivência tornou-se canibal. Quando os primeiros colonos europeus chegaram à ilha, em 1722, a paisagem estava já totalmente alterada e a população estava reduzida a perto de 3.000 pessoas.
Em 1871 os missionários europeus a viver na ilha evacuaram 171 habitantes para o Arquipélago de Gambier. Os habitantes que não quiseram partir eram principalmente homens idosos. Seis anos depois, os Rapa Nui estavam reduzidos a 111 indivíduos. A partir desta altura a população começou lentamente a recuperar e actualmente vivem na ilha cerca de 5.700 pessoas, sendo que poucas são descendentes directos dos Rapa Nui.
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